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SOBRE MIM / ABOUT MY SELF / TENTANG DIRI SAYA / KONA-BA HA'U AN.

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Díli, Díli, Timor-Leste
Olá..., Sou Paulo S. Martins, de Ainaro, sou eis seminarista do Seminário Maior de São Pedro e São Paulo Fatumeta, Díli, Timor-Leste (Eis Frater), licenciado em Direito pela Escola de Direito da Universidade do Minho, Braga-Portugal e sou mestre em Direito Tributária pela mesma escola. Atualmente sou jurista e assessor legal num instituto público em Díli. Ora, esta página criei em 2010 com intuito partilhar pouco conhecimento que eu tenho ao público em geral e aos que têm sempre sede de ciências e informações. Os conhecimentos e as informações que opto por publicar aqui sempre estão relacionados com direito, cultura, família e poemas. Aqui vai a minha página. Portanto, agradeço imenso pelos comentários e sugestões dados para melhorar esta página. Um grande abraço. Paulo Martins

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Barlaque - Casamento Tradicional em Timor-Leste (O sentido do Balaque e algumas notas em relação as definições existentes na internet)


O Barlaque ou melhor dizer em Tétum BARLAKE é uma cultura existente em Timor-Leste desde o tempo imemorável. Ninguém sabe quando o surgiu embora todos os timorenses sabem que ele existe até presente. É uma cultura do povo que já faz parte da vida do povo e existe com o povo. 

Há algumas definições existentes na internet relativamente ao sentido do Barlaque (barlaque - Significado de Barlaquesm (malgaxe barlaki) Compra de mulher conforme ritual observado entre os indígenas de Timor - in  http://www.dicio.com.br/barlaque/)  parece-me que estranha por razão simples da factualidade do conceito de Barlaque. As definições que se encontram na internet são definições meramente literal e subjectiva. Talvez os sujeitos que fizeram estas definições nunca estavam na realidade cultural das indígenas timorenses. Fizeram uma definição exagerada com referência às prestações que a família da noiva deram à família do noivo no processo de pré-casamento cultural timorense.  Não é uma questão de inveja, mas é uma realidade que deve ser revelada uma vez que a verdade existe quando a realidade fala.

O Barlaque existe até hoje em dia graça a uma transferência cultural de geração a geração. Ninguém se sabe quando ele existe. Muitas vezes as pessoas questionam e desvalorizam o barlaque porque entendem que este não contribui a uma dignificação da pessoa humana independentemente da nossa era da globalização. Mas resta saber que a cultura em si é uma riqueza que contribui a manifestação de valor humana numa dada comunidade social. O barlaque não significa a compra de mulher como está escrito no sito anterior e nas algumas páginas de internet. Uma vez que o barlaque, numa ponderação cultural humanística, é um meio pelo qual o homem pode valorizar a dignidade da mulher frente a sociedade timorense. Por isso, no processo de barlaque pressupõe que exista um consenso comum entre as partes, desde logo, entre os sujeitos principias (noiva e noivo) e subsidiariamente entre as famílias dos sujeitos principais em que estes tem de chegar a um acordo para a realização do barlaque. Portanto, a prestação do barlaque, em regra, feita pela família do noivo à família da noiva. Esta prestação se verifica nos bens patrimoniais susceptíveis a avaliação pecuniária. Por exemplo, dinheiro, mortel, caibauk, animais, belak e etc. Portanto, trata-se aqui, uma prestação patrimonial. Mas não significa que esta prestação é para comprar a mulher assim como diz nos sitos em causa. Por um lado, esta prestação é para valorizar a dignidade da mulher e para reunir a família, quer da família recém-formada como da parte da família dos sujeitos principias sendo que os sujeitos principias servem como laço de aço que podem ligar as famílias como uma comunidade particularmente bem ligada uma a outra no sentido cultural de Timor. Por outro lado, não podemos dizer que o barlaque é uma prestação que serve para comprar a mulher, pois, sabemos que não existia e nem existiu o valor da mulher assim como preço das coisas no mercado. Além disso, historicamente não existia escrava ou escravo em Timor que era susceptíveis a avaliação pecuniária. No ponto de vista jurídica, os seres humanos nunca pode ser objecto do negócio jurídico e muito mais objecto de um contrato  de compra e venda. Os seres humanos são sujeitos da relação jurídica e do negócio jurídico - são autores das relações jurídicas. Sendo assim, o barlaque é considerado um meio pelo qual o homem pode valorizar e dignificar as mulheres e é um processo pré-casamento tradicional que existe no meio da comunidade timorense para ligar uma família a outra e construir um respeito mútuo entre as famílias. Além disso, o barlaque é considerado como um negócio bilateral em que as partes tem de chegar a um acordo, ainda que o acordo prevalece no modo tradicional, para efectuarem o processo e prestação patrimonial que estejam preparados. Consideramos como um negócio jurídico bilateral porque um negócio, exige no fundo, é uma actuação de livre vontade e que, eventualmente, pode cessar em qualquer momento. Pois, não podemos negar que mesmo que existe barlaque, ou seja, as pessoas prestaram o barlaque mas chegou a um momento  em que os sujeitos principais divorciaram-se ou separaram-se. Mas na realidade mesmo que a relação entre os sujeitos principais cessou por separação, isto, como acontece na realidade,  não é causa de extinção do laço familiar, portanto, mantém-se firme entre os sujeitos subsidiários.

Em fim, o barlaque é uma prestação patrimonial feita pela família, inclusivamente o noivo, do noivo à família de noiva com intuito de acelerar o processo pré-casamento tradicional cuja ato principal é levar a noiva a casa do noivo e fica ali (casamento tradicional em sentido próprio) e um meio pelo qual a sociedade pode dignificar e valorizar culturalmente a mulher na sociedade timorense. Em consequência disso, por uma lado, os sujeito principais possam decidir casar-se automaticamente após do barlaque (entra numa situação de barlaquiados) ou ficam separados até possam efectuar um casamento segundo a doutrina da religião Católica. E por outro lado, criar um respeito mútuo de natureza mais profunda e especial entre os sujeitos subsidiários graça ao casamento dos filhos e que vão ajudar uns aos outros nos problemas sociais que liguem directamente às duas famílias em causa.  


O Barlaque e a Violência Doméstica em Timor-Leste.    

Muitas pessoas acharam e acham que um dos motivos para a violência doméstica no seio da comunidade timorense é o Barlaque. Como o homem (noivo) e as famílias prestaram muitas coisas ou bens patrimoniais para ter a noiva ou a mulher então a mulher ou noiva em causa deve servir bem o noivo e as famílias dele, caso contrário, o homem tem direito de bater na mulher, ou seja, o homem tem direito de fazer agreção física ou violência doméstica à mulher e muito pior é que as famílias do homem podem mal tratar ou até bater nela.  

... continua....  

Por Paulo Soares Martins (timorense de origem Ainaro) - Estudante de Direito na Universidade do Minho, Braga-Portugal. 

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GENTE DE TIMOR (Obra Original do Paulo S. Martins)

Da ilha verde, da forma de crocodilo.
Da verdura montanhosa e da alma lutadora.
De um sangue humilhado mas não ser humilhada.


Da brisa da frescura e do aroma da verdura,
Do rio pedroso e das rasas espinhosas,
das cores arco-íris e das flores da natureza.


Ó gente de Timor...!
Das praias bonitas e das ondas manhosas,
das águas quentinhas e das bocas sorridentes.


Do coração da pomba e pele da cobra,
dos olhos da águia e pés dos crocodilos.
das mãos do campo dos pés do viagante.


Ó gente,
minha gente
gente de Timor...!
mostrai a boca e lavai os olhos,
treinai as asas e voai mais alto,
treinai os pés e chegai mais longe.


Uma Lisan Diurpu,

Uma Lisan Diurpu,
Uma lisan Diurpu, hanesan uma lisan eh Uma Knua eh Uma Lulik ka ho lian português "Casa Sagrada" timor nian ne'ebé mos sai hanesan Uma Lulik ne'ebé importante iha Knua Ria-ailau, Ainaro-Manutaci. Uma Lulik ne'e besik ba Ramelau hun. Uma ne'e agora nia gerasaun ladun barak, maibé komesa buras fali ona ba oin ho prezensa foin sa'e sira ne'ebé foin moris iha tinan 1990 mai leten. Agora dadaun Sr.António mak hola fatin eh substitui fali Sr. Augusto ne'ebé uluk nudar bali nain ba Uma Lulik ne'e nia fatin para bali uma ne'e. Uma Diurpu lokaliza iha Distritu Ainaro, Subdistritu Ainaro, Suco Manutaci no Aldeia IV. Nia fatin uluk besik malu ho uma Lisan Mantilu ne'ebé uluk iha Mupelotui no Maupelohata. Maibe agora sai ona mai iha buat mos ka fatin foun principalmente iha tempo katuas Augosto nian. Ita hare iha imagem ne'e, iha uma ne'e nia kotuk ida kalohan taka ne'e mak foho Ramelau ka Tatamailau. Hori uluk iha okupasaun Portuguesa no Ocupasaun Indonésia nian iha Timor, Uma Diurpu seidauk hetan Sunu ka amesa hosi Ahi. Tanba tuir história beiala sira nian, uma ida ne'e ahi nunka bela han, ka ahi la han. Tuir lian nain no katuas sira nebe hare ho matan, katak iha tempo kolonial português nian iha Timor, uma Mantilu nebe momentu neba hari besik kedan uma Diurpu (Uma tatis sei ba malu) ne'e ahi han tia iha kalan ida, nebe tuir lolos uma Diurpu ne'e mos ahi tenki han hotu, nia logika nune, tanba uma rua ne'e rabat malu kedan. Maibe katuas sira haktuir dehan, sa mak akontese iha momentu neba mak, manu makikit mean (manu lokmea ) ba tur iha uma Diurpu nia kakuluk ne'e i kuando ahi lakan ne'e baku ba uma Diurpu nia leten, manu makikit ne'e loke liras dala ida, ahi lakan baku fali ba parte seluk. Ho nune'e ahi han uma Mantilu ne'e to romata, maibe uma Diurpu ne'e ahi la han. I manu makikit ne'e tur iha uma ne'e nia kakuluk to ahi lakan hotu ka mate. Iha kolonial indonésia nian, ahi nunka han uma ne'e. Milisia sira tama to'o iha bairro neba i sunu uma Builiuh nebe iha kraik mai maibe la sunu uma Diurpu, milisia sira liu kona dalan ninin deit i neon la kona ka la hanoin at ba Uma ne'e. Além de ne'e, katuas assasinio ka oho dor no katuas seluk nebe ema iha suku laran konsidera katak lia-nain iha suko ne'e fo sasin katak uma Diurpu ne'e iha nia karakter da unika i ema ne'ebé hanoin a'at nunka bele hakat to'o uma ne'e nia sorin, tanba sei la hetan dalan atu tama ba uma ne'e. Iha tempo indonésia nian, iha momento nebé ami hotu sei kik, kuando kalan ka loron mak bapa sira atu tama ba ou falintil sira lao besik iha uma ne'e, ita iha uma laran hatene kedan ona tanba iha manu (ho froma manu fuik hanesan andorinha bot) ida nebe'e hanesan manu makikit kik ne'e semo haleu uma laran ne'e i fó alerta ba ita. Iha ne'e ita nebe toba iha uma laran sei la dukur tanba manu ne'e nia liras sempre baku ita no baku buat kroat nebe ita iha. Uma ne'e uluk iha Maupelohata hansa dehan tia ona. Sai fali mai iha nia fatin foun, hari'i desde 1976 no'o troka lolos iha 1998. Hafoin ta'a fali ai foun no prepara material foun pois hari'i fali iha 1998 to agora 2014. Nia kondisaun diak nafatin hansa ita hare iha retrato ne'e, nia varanda luan liu uluk nian. No Nia sempre nakloke ba ema hotu nebe hakarak ba visita Nia. By Paulo S. Martins (qno.tls@gmail.com)